Mude as regras, não o amor
- raissavolker
- 22 de mai. de 2019
- 2 min de leitura

O que fazer para que crianças sigam regras??? Quem nunca se perguntou? As respostas por aí convergem num ponto: “Seja coerente. Não abra exceção! Se não, a criança nunca mais te obedece.”
Quando me tornei mãe, tentei muito o caminho de não abrir exceção. Tantas vezes o olhar da minha filha e o meu coração de mãe clamavam por outra resposta naquele momento... Mas, com medo de pagar o preço em um momento futuro, não me abria para exceções. “Onde estaria minha autoridade? Regras economizam energia. É assim e pronto.” Fingia que não via. Fingia que não sentia.
Mas quantidade nenhuma de energia dava conta do desconforto em mim e nela da obstrução dos meus sentidos. Me negar a ouvir aquele olhar. Me negar a sentir o corpinho especialmente cansado naquele dia. Perceber a vontade doida de voltar pra brincadeira, só mais um pouco... uma imensidão viva, diante da rocha amedrontada da Regra. A rocha que não ouve o amor.
Mas, eu pergunto: vale um quarto arrumado por um adolescente que não se sente ouvido nem visto? Vale um cumprimento de horário por uma criança que teve que guardar pra si a descoberta de um bicho estranho no canto do banheiro, algo que queria tanto compartilhar? Se a criança sai com sensação de solidão, vale?
Obstruir os sentidos faz parte da lógica do medo, não do amor e da confiança. A lógica do medo de errar ou de fracassar, da necessidade de controlar e viver a ilusão da estabilidade. Tenho percebido que, quanto mais disciplinados e obedientes fomos como filhos, mais rígidos nos colocamos. Quanto menos nos permitimos exceções, quanto menos nos tratamos com amor, menos sustentamos as exceções. Pelo mesmo medo, de sair do podium, perder as estrelinhas de menina excelente, degolamos a viva conexão com nossos filhos e com nossa alma e coração.
Num movimento espiralado, me reafirmo a cada dia no lugar do fluxo e do confiar. Uma espiral sutil de sustentar limites que amparam e estruturam, mas também saber a hora de acolher e permitir.
Quando sim quando não? A resposta não está em manual. O guia é o coração. Cada criança é uma, cada momento é um. Mas, com alguma presença e entrega, notamos o olhar transparente do que essa criança precisa. E o que percebo é que, em tempos difíceis, elas se viram muito bem, não mais por saberem regras externas do que por se saberem amadas e reconhecidas.
Em tempo... Regras existem para dar estrutura para liberdade de ser. Elas precisam existir, ser claras e informadas. Hoje, muitas famílias não têm regras, tentando compensar ausência com permissividade. Se alguém veio para esse post buscando esse conforto, eu não entrego. Isso se chama abandono. E eu estou falando de presença. Presença conectada e atenta à transparência desse olhar.
Comments