Menino brincando de boneca! No fim das contas, isso é normal?

Mesmo que você queira agir naturalmente, o que acontece lá dentro quando você vê um menino (seu filho em especial) brincando de boneca? Menino brincando de boneca gera desconforto nos pais, nos avós e assim vai. Vamos começar entendendo que brincar não é passatempo à toa. O brincar é a tarefa da criança para se desenvolver. O brincar livre, sem diretividade nenhuma, é fundamental para que a criança processe suas angústias, suas alegrias, o que é novo, a dinâmica das relações, a fragilidade ou o excesso nos vínculos, os conflitos internos e os vividos com o outro... o infinito de dentro de uma pessoa que está nascendo pro mundo. A boneca é o recurso por excelência para essa vivência, desde que seja neutra o suficiente para permitir que ela seja o que for: ciumenta, egoísta, preguiçosa, agitada demais, faladeira, tímida, bonita, feia... há identificação com a boneca, e projetar nela essa enxurrada de sentimentos dá alívio e permite elaborar com muito mais leveza. “Ah, meu filho não tem boneca, mas tem todos os super heróis da Marvel e brinca com eles o dia todo!” É isso que damos aos meninos. Super heróis. Há gerações e gerações e gerações os meninos crescem na lógica da força, da violência, do poder além dos limites humanos, da resistência, do não se abater jamais. Não há opção pra ser inteiro. O homem é sensibilidade, força, vulnerabilidade, carinho, dureza, abraço, entrega, lutas, lágrimas... A masculinidade oprimida pelo modelo que perpetuamos já não se sustenta e só gera sofrimento. Só um masculino tão ferido, tão cobrado, tão oprimido pode agredir tanto as mulheres como acontece na nossa cultura. Esse post não esgota o assunto, mas vou encurtar o caminho: Mais do que achar natural ver seu filho brincando de boneca, ache bom e dê a ele bonecas e bonecos (com roupas pra trocar!), de preferência aqueles de pano, bem neutros. Nem precisa comprar. Faça com ele! É uma delícia! Sinta a naturalidade disso. Se o filho sentir que você está incomodado/a mas fingindo não estar, não vai rolar. Disponibilize o que ele precisa, sem excessos e, sobretudo, disponibilize-se internamente. Menino brincando de boneca não só tem que ser normal, mas é fundamental.