Dever de casa também pode receber diagnóstico?
- raissavolker
- 12 de fev. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 20 de mai. de 2019

10 anos. Hora do dever de casa de História. Um custo pra focar no texto atrasado há três dias. “Foca, filho! Vamos lá, pra acabar logo!” E continua o suplício. Lá pelas tantas: “Mãe, existe uma razão lógica para eu estar vivo?” “humm... ... desenvolve aí seu pensamento, filho. Como assim?” “Se a gente for andando pra trás, tudo deve ter começado em um átomo, mas ele não é vivo por si só. E, mesmo que fosse, ele é formado por um único elemento. Por exemplo, se era de oxigênio, quando ele se duplicasse, não viraria de nitrogênio ou hidrogênio... então, teríamos um só elemento... qual é a lógica de eu estar vivo?” Pois é, alguns pensam na origem da vida, em átomos, outros em esportes, outros desenham, outros em animais, outros em dançar, outros processam a saudade do pai. É o ser que insiste em querer desabrochar. Mas, na contramão, sabe como se resolve o problema da "falta de atenção" nos deveres de MILHÕES de crianças que estão é muito atentas e focadas em algo que tenha verdadeiro sentido para elas? Uma discreta pilulazinha aqui e outra lá no dia para "estimular o sistema nervoso central". Isso se chama silenciamento químico, pra fazer seres imensos, vivos e criativos diminuírem a ponto de caber num sistema obsoleto e estreito. (Claro que o problema não está na criança, mas no sistema. Localiza-lo na constituição neurológica da criança é um alívio, porque questionar algo tão estabelecido dá trabalho e não acontece sem raspar na nossa realidade pessoal e nos desacomodar. Mas vamos falar disso em outro momento em breve.) Agora me responde: você acha que uma criança assim precisa de estímulo pro SNC? Ele precisa é que se tire o desestímulo da frente para que possa voar! Focar no que tem sentido e seguir criando é resistir às amarras e expandir as asas. Numa hora dessas, quando a gente permanece na insistência pro dever de casa, a gente prioriza uma demanda de fora em detrimento ao ser que quer surgir. Quando a gente pára, escuta e banca o diálogo (e suas consequências), a gente prioriza a real aprendizagem e o desenvolvimento daquela pessoa única. A meu ver, é esse, e só esse, o nosso papel.
Se a gente não advogar a favor do que nossos filhos vieram para ser nesse mundo, quem vai? E, vamos combinar, o mundo tá precisando de gente autônoma, autêntica, criativa, ética e empática. Eles estão aí! Desconstruindo, somando, criando. É só não atrapalhar - nem silenciar.
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