A Adolescência é um mito
- raissavolker
- 9 de mai. de 2020
- 2 min de leitura
Nunca vou me esquecer de uma reunião de pais que tive quando minha filha entrou “oficialmente” na adolescência, que a professora iniciou com um “poema” falando sobre a “tirania do adolescente”, ao qual complementou sua promessa de que levaria o ano com pulso firme, já preparada que estava para que as antigas crianças não saíssem da linha. Apresentou com mãos abertas a lente que coloca na frente quando enxerga pessoas com essa idade. Ela foi bem direta, ao que sou grata, porque pude escolher em que mãos gostaria que minha filha estivesse. Nem todos nós somos assim tão claros diante dos nossos medos ou construções conceituais, pré-definindo o outro ou as relações a partir do que vivemos ou do que está impregnado na nossa cultura. A promessa de silenciamento feita pela professora não é rara. Sempre que escuto isso sobre o adolescente, uma parte minha dói fundo, mas outra comemora, porque esse temor mostra um reconhecimento do poder revolucionário dessa idade. O doído, e que Calligaris nos lembra, é que do “adolescente” esperamos autonomia e continuação da dependência; dizemos que é imaturo um corpo que amadureceu. Ideias circulares, cheias de contradições, que dificultam a vivência dessa idade na nossa cultura. Pra quem está pertinho de um jovem, cria a dificuldade de escutar, viver a experiência da relação, coconstruir percepções de mundo, novos jeitos de ser. Adultos perdidos na mistura interna ativada pela convivência com um “adolescente”: “Objeto de inveja e de medo, a adolescência dá forma aos sonhos de liberdade ou de evasão dos adultos e, ao mesmo tempo, a seus pesadelos de violência e desordem. Objeto de admiração e ojeriza, ela é um poderoso argumento de marketing e, ao mesmo tempo, uma fonte de desconfiança e repressão preventiva”. #adolescencia #contardocalligaris

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